quinta-feira, 13 de março de 2008

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..A nossa música*Amo-te muito pai

terça-feira, 11 de março de 2008

9 de Março de 2008


Sábado andava tão triste.. acordei com a sensação que estava a cair em declínio, e senti-me muito frágil, sentia-me pequenina, passei o dia inteiro a chorar, desde que me levantei até me deitar, sentia um peso... algo que não me deixava sorrir, algo que não me libertava. Todos me perguntavam se eu estava bem ou se tinha acontecido alguma coisa.. não sabia responder!
As 7h da manhã de domingo recebi um telefonema da minha mãe a dizer que tinha de ser muito forte com aquilo que ía ouvir... o coração saltou para a garganta e o que não esperava ouvir... fez eco nos meus ouvidos:
"-O PAI morreu filha!"

... chorei compulsivamente mais uma vez.. não queria acreditar no que tinha ouvido, pensava no que seria da minha mãe e do meu irmão, pensei em tudo o que me lembrava dele na altura, coisas boas ou más, lembrei-me que era injusto porque depois de tudo o que ele passara esta morte tinha sido uma morte desapropriada ao estilo de vida que ele sempre levara.
Telefonei várias vezes a minha mãe, que por sua vez me passou ao meu irmão.. queria confirmar, queria saber, porquê é que eu não estava lá junto deles? Porque assim alguém o quis?
Cheguei a Portugal na segunda feira dia 10 ás 20h, num sítio onde não queria estar, num sítio que não queria cheirar, num sítio que não queria ver..Cheguei a casa por volta das 23h, o meu irmão abre-me a porta, damos um abraço forte e choramos, vejo a minha mãe e tento confirmar tudo, mas os olhos de cansaço não desmentem, e o mais triste que há em mim, chora para ela ver.
Falamos de tudo para confirmar histórias, para saber o que aconteceu, para saber o que ainda há de vir! Histórias que não queria ouvir, histórias de mentiras, algumas de protecção... enfim uma confusão!
Mas a verdadeira caída da realidade foi no dia do funeral, quando o fui ver a morgue do hospital.Olhei para a minha mãe e para os olhos cansados de chorar, e perguntei:
"-Aquele não é o pai!"

... Afinal aquele era o meu pai, entrei devagarinho para não o acordar e vi-o, vi-o deitado num caixão com rendas brancas, com uma expressão que nunca tinha visto nele... PAZ, a sensação de que ele estava a descansar, tal e tal como ele fazia, estava muito bem vestido, tendo sido a minha mãe a escolher a roupa dele, com todo o amor que tinha para lhe dar, o caixão estava cheio de flores vermelhas e brancas e estava envolto na beleza que se calhar nunca lhe tinhamos visto!!
Estava envolto na paz e até parecia sorrir..
Acreditei que estava morto e chorei, disse que ainda estava mais bonito do que alguma vez o tinha visto! Foi penoso, vê-lo ali deitado, olhar para ele e querer que ele acordasse, para me dar uma explicação de tudo o que se tinha passado...
Nunca tinha passado por esta situação,nem sequer tinha ido a um funeral, a Igreja estava cheia de pessoas que o queriam ver pela última vez e que queria dar os seus sentimentos, nunca esperavamos tantas pessoas, mas elas vieram, e mostraram todo o seu apoio! Foi muito bonito...



A ti... que me estás a ouvir,

Como já te disse nunca tivemos uma relação de proximidade muito grande mas para mim eras sempre o meu pai, aquela figura que sempre fazia disparates e que por vezes não queria reconhecer, aquela figura que me deixava triste, e aquela que me fazia ter pena..
Não te vou mentir, que ficamos muito tristes com tudo o que nos deixaste pendente aqui no mundo real, com tudo aquilo que sempre quiseste para ti, sem pensar nos outros, e que agora nos cai em cima como pesos pesados.
Sabes que nem sempre tive coragem para falar contigo, sabes que nem sempre tive coragem para te dizer o que sentia, nunca tive coragem para te mostar o que queira, o que não gostava... mas tu sentias, e era essa a nossa base de relacionamento.
Sabes que nem tudo o que fizeste na tua vida foi bonito, e sabes que nem sempre nos respeitaste como tua família... também sabes que nós nunca te abandonamos e sabes que nunca te deixámos quando estavas mal, e todos de deixavam.. sempre lutamos por ti, pelos negócios que sempre tiveste..nunca quiseste ser repreendido, nunca quiseste ouvir as verdades, mas também como pai e como pessoa, nunca nos agradeceste com uma palavra..
...mas acredito que agradeceste de certa forma ao deixares de beber, um grande passo para a tua vida e para a vida dos que te rodeavam.
Uma vez mais querias fazer a tua vida pondo-nos a parte, fazendo sempre o que querias e mais uma ves estavas a afundar-te.

Não.. Não estou a querer discutir este assunto para sempre, eu sei que tu funcionas com uma borracha mágica, e acredita que só disse isto tudo para que saibas que os três elementos que vivem contigo (tua família)...

TE PERDOA, DE TUDO... de tudo mesmo e sabes do que não nos esquecemos em ti?
...da pessoa frágil que eras, temos saudades da forma como falavas para nós, da maneira como dizias Boa Noite...e do sorriso sempre envergonhado.
Não te esuqeças de leres o postal que colocamos no teu casaco do lado do teu coração...é ele que te diz que te aceitamos tal e qual como eras... mas pensamos que agora atingiste um nível superior, e lembro-me das palavras do padre:
"-Chegou a hora do Carlos, ele não conseguia caminhar sozinho!"

E foi... já não podias caminhar sozinho, por isso ele veio.te buscar...e nunca te esqueças que o Carlitos e a Mãe foram incansáveis contigo, o mano teve muita coragem, e sempre esteve do teu lado, para te tentar salvar, eles viram-te MORRER...
Agora tens de os ver VIVER

Gosto de ti, vou ter saudades, e vou sentir muito a tua falta, perdoei tudo...e vou-te lembrar sempre com os momentos mais doces da minha vida, afinal tu sempre foste o meu KIKO e eu a tua princesa Diana...
No teu funeral lembraram-me disto:
"-O teu pai sempre disse que tu eras a princesa Diana e ele era o princípe Carlos!"

É com a imagem de um princípe encantado que vou ficar, e da qual me quero lembrar.
AMAMOS-TE MUITO!
(o amor é saber perdoar, e saber perceber, mas também é saber aceitar)
ADEUS PAI*